No último
sábado (25/10) perdemos um dos músicos mais importantes não só da História do
rock, mas da História da música no Século XX: Jack Bruce. E algo que me chamou
atenção – embora não tenha me surpreendido – é que muito se falou no trabalho
que ele realizou com o Cream, e praticamente nada foi dito sobre seus discos
solo. Claro, falar sobre Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker é “chover no molhado”; o Cream foi um dos power
trio mais importantes a aparecerem ali na segunda metade da década de 1960,
junto do Experience de Jimi Hendrix. Mas Jack Bruce também lançou discos
seminais como artista solo, trabalhos que mostram um artista que não se
acomodou com o “status” de “rock star”, mas que sempre se mostrou inovador nas
suas criações, seja dentro da seara rock-pop ou até mesmo dentro do jazz, como
veremos. Uma carreira impecável, que se estendeu até seu último ano de vida.
Aqui, vou
jogar um pouco de luz sobre os primeiros discos, lançados entre 1969 e 1977, e
que definiram seu estilo e identidade artística dali em diante.
Songs For A Taylor (1969)
Primeiro
disco lançado por Bruce (embora não o primeiro a ser gravado, como veremos a
seguir) e que saiu no mesmo tempo em que uma gravação ao vivo de “Crossroads”
estourava no Top 30 e o clássico único álbum do Blind Faith chegava às lojas.
Esse disco mostra uma face da música de Bruce diferente de seu trabalho com o
Cream, menos “hard”, menos “blues”, canções mais concisas e boas pitadas
jazzísticas nos arranjos. E essa
sofisticação sonora maior se deve, além da performance brilhante de Jack Bruce
nos vocais, piano e baixo, à participação de músicos como Chris Spedding, Dick
Heckstall-Smith e Jon Hiseman, além da participação de George Harrison (sob o
pseudônimo “L’Angelo Misterioso”) na faixa de abertura do LP. E é o disco que
contém duas joias do repertório de Bruce, “Theme For An Imaginary Western” (que
também ganhou ótimas versões do Mountain e do Colosseum) e “Rope Ladder To The
Moon”. O primeiro tiro, e na mosca!
Fico
imaginando o susto que um desavisado fã do Cream deve ter tomado, em 1970, ao
pousar a agulha sobre os sulcos desse vinil. Gravado em agosto de 1968, mas
lançado dois anos depois, o papo aqui é o mais puro jazz, com influências fortes
de be-bop, hard bop e afins, idioma esse que Jack Bruce conhecia, e bem, desde
os tempos de pré-adolescente (tanto que, alguns dos temas apresentados no LP,
foram compostos por ele quando tinha apenas 11 anos de idade!). Acompanhado
também por Hiseman e Heckstall-Smith, além da presença luxuosa de John
McLaughlin, Jack Bruce “ligou o foda-se” lindamente, cometendo seu trabalho
mais descompromissado e livre artisticamente. Uma obra-prima!
Harmony Row (1971)
“Como
obra autoral eu prefiro Harmony Row a Songs For A Taylor. Todas as canções
foram escritas numa tarde. Eu apenas sentei ao piano com um baseado e gravei
minhas ideias num gravador”, disse certa vez Jack Bruce.
Harmony
Row foi a continuação natural do Songs
For A Taylor, com canções mais diretas, mas, ao mesmo tempo, extremamente
elaboradas em arranjos, melodias e harmonias. E, o grande trunfo desse disco é
que, ao mesmo tempo que seu conteúdo é extremamente sofisticado, não é um disco
“difícil”. E’ daqueles que fisgam o ouvinte logo na primeira audição. Isso se
deve também ao teor emocional e pessoal desse LP, presente da arte gráfica às músicas.
Todo o conceito gira em torno da Glasgow natal de Bruce (o título do disco,
inclusive, é o nome de uma rua do bairro onde Jack nasceu). Jack Bruce
simplesmente arrebenta nos vocais, piano, baixo (como sempre!) e órgão,
acompanhado de John Marshall na bateria e Chris Spedding na guitarra. Mais uma
vez, uma obra-prima absoluta.
Out Of The Storm (1974)
Em
1972 e 1973, Jack Bruce se juntou a Leslie West e Corky Laing, egressos do
Mountain, e formou com eles o trio West, Bruce & Laing, retornando ao hard
rock que lhe rendeu fama e dinheiro nos tempos do Cream e dando início à fase
mais hedonista/ porra louca/ “cabeleira alta” da sua vida. Nosso herói só voltaria
a gravar um trabalho solo em 1974, com esse “Out Of The Storm”.
Nesse
disco, temos um Jack Bruce meio progressivo,meio AOR, em alguns momentos
lembrando as experiências do Steely Dan em discos como The Royal Scam e Aja. Aqui,
Jack é acompanhado de Steve Hunter na guitarra e Jim Gordon na bateria, além da
participação de Jim Keltner também na bateria, em alguns momentos.
E é
mais um disco onde Jack Bruce busca inovações para a música e para a sua
música. Porém, essas inovações nunca se traduziram em sucesso e vendagem de
discos. Ao mesmo tempo em que Eric Clapton, seu colega de gravadora, vendia milhões
de cópias do seu 461 Ocean Boulevard, Out Of The Storm sequer arranhou o top
100 da Billboard.
How’s Tricks (1977)
Após
uma temporada tocando em um projeto com Mick Taylor, Jack Bruce reuniu uma nova
banda em 1976 com os então novatos Hughie Burns (guitarra), Tony Hymas
(teclados) e Simon Philips (bateria) para registrar um novo trabalho solo, que
só sairia em março de 1977.
Desses
primeiros discos, esse talvez seja o
mais “roqueiro” e direto ao ponto. Músicas
como “Waiting For The Call”, “Mad House” e a faixa título poderiam muito bem
fazer parte do repertório do Cream, ao mesmo tempo que “Lost Inside A Song”, “Without
A Word” e “Outsiders” seguem o conceito do trabalho anterior. Um grande álbum, que ainda merece ser mais ouvido e ter seu valor reconhecido.
Dos
anos 1980 até a década atual, Bruce seguiu tocando e produzindo, seja solo ou
em parceria com músicos como Robin Trower, Gary Moore, Billy Cobham e John
McLaughlin. Sempre íntegro, às vezes nem tão inovador, mas sempre interessante
de ouvir. Pra quem quiser saber mais sobre Jack Bruce, biografia, discografia
completa etc. segue um bom link: http://allmusic.com/artist/jack-bruce-mn0000152312. Também recomendo a ediçao 44 da Poeira Zine, com matéria de capa excelente do Bento Araújo. Ela pode ser adquirida por aqui: http://www.poeirazine.com.br/loja/numero-44/
Thank you for the music, Jack. God bless you.
Parabéns pelo trabalho!!!
ResponderExcluirAbraço Seasky
Valeu, Parceirao!
ExcluirMuito bom, Evil. Muito bom mesmo.
ResponderExcluirVou virar freguês.
Siri.
Boooooooommmmmmmmm, valeu mesmo Garoto. Muito bom!
ResponderExcluirParabéns!