O “Tesouro” de hoje
é a história de dois músicos inovadores, gênios dentro de suas
áreas de atuação, que fizeram trabalhos antológicos e que têm
alguns pontos em comum e tantos outros bem distintos. E que, por um
capricho do destino, não trabalharam juntos.
Miles Davis (no fundo, à esquerda) e Gil Evans (mais à frente)
Gil Evans foi um dos
maiores arranjadores da História do jazz e teve uma carreira bem
longeva, que começou nos anos 1930 e seguiu até a sua morte, em
1988. Nascido em 13 de maio de 1912, no Canadá, Evans iniciou sua
carreira em 1933, na Califórnia, já liderando sua própria big
band. Nos início dos anos 40, Evans começou a ganhar fama como
arranjador, nos seus trabalhos com a orquestra de Claude Thornhill e,
também por essa época, já absorvia a influência do be-bop, estilo
de jazz que começava a ser desenvolvido por nomes como Dizzy
Gillespie, Charlie Parker e Miles Davis. E foi com Davis que Gil
Evans fez seus trabalhos mais antológicos, tendo sido o responsável
pelos arranjos e regências dos discos Miles Ahead (1957), Porgy And Bess (1958) e Sketches Of Spain (1960), clássicos absolutos e
fundamentais em qualquer coleção de respeito. E, outro ponto em
comum entre Miles Davis e Gil Evans é a busca constante pela
inovação. Assim como Davis, Evans também foi bem sucedido ao usar
instrumentos elétricos e influência do rock nos arranjos da sua
orquestra, a partir do final dos anos 60.
Jimi Hendrix teve uma
vida muito curta (1942 – 1970), mas, no curto tempo de vida que
teve, deixou um legado e uma influência que, até hoje, são
sentidos. Hendrix iniciou sua carreira no início dos anos 60,
acompanhando nomes como King Curtis e Little Richard, até se mudar
para a Inglaterra em 1966, com Chas Chandler (ex-baixista do Animals
que se tornara empresário). E, ali, deu início a sua revolução,
ao montar a Jimi Hendrix Experience ao lado de Noel Redding (baixo) e
Mitch Mitchell (bateria). Essa formação durou até 1969, quando
Hendrix passou a ser acompanhado por outros músicos como Buddy Miles
e Billy Cox (quando formou a Band Of Gypsys, que durou tempo
sufciente apenas para uma apresentação no Fillmore East, no
Reveillón de 1969, e que gerou o disco homônimo).
E dizer que Hendrix foi
o “maior guitarrista de todos os tempos”, pra mim, é limitador,
e não dá a real importância que ele teve na história da música.
Hendrix simplesmente “reinventou” o instrumento, utilizando de
vários efeitos, assim como também usou e abusou dos recursos de
estúdio (que, na sua época, eram até bem limitados) para criar seu
som. Assim como Gil Evans, foi um inovador.
Gil Evans – The Gil
Evans Orchestra Plays The Music Of Jimi Hendrix (1974)
Nos seus últimos dias
de vida, Jimi Hendrix começava a criar interesse pela então
nascente cena do jazz/ fusion. Nessa época, Miles Davis lançou seu
Bitches Brew (1970), que misturava os improvisos do jazz com o peso e
a eletricidade do rock. E outros nomes também começavam a seguir
essa trilha, como John Mclaughlin (que tocou guitarra no Bitches
Brew), Larry Coryell, Herbie Hancock entre outros que surgiriam ao
longo daquela década. E, nesse interesse crescente de Hendrix, ele
começou a conversar com Gil Evans, com a ideia de fazerem juntos um
projeto, fosse um disco, ou uma apresentação ao vivo, unindo a
fúria de sua guitarra com a orquestra de Evans que, nessa época,
também enveredava pelos caminhos do fusion. Porém, o destino não
quis que esse encontro acontecesse. Jimi Hendrix faleceu em setembro
de 1970, antes que esse projeto se concretizasse.
Quatro anos depois, em
1974, Gil Evans toma para si a missão de levar a cabo esse projeto,
em forma de tributo, escolhendo 9 composições de Hendrix e
enriquecendo-as com seus arranjos e sua orquestra de 19 peças. E o
resultado é espetacular, com Evans conseguindo a fusão perfeita da fúria e da eletricidade do som de Jimi Hendrix com o swing e
o improviso do jazz. E, ao ouvir, ficamos imaginando como poderia ter
sido, se Hendrix tivesse sobrevivido para gravar um disco com Gil
Evans...
Reedição de 1989.
Esse disco não chega a
ser exatamente um item de “bacião”, mas a reedição em vinil,
lançada em 1989, não é difícil de encontrar, com exemplares sendo
vendidos a um preço médio de R$ 25,00, R$ 30,00 (edição
brasileira). Com sorte, se acha até por menos. O original de época
também é facilmente encontrável via Ebay, mas por um preço bem
mais salgado. Enfim, seja qual for a edição, é um disco que vale
muito a pena ter no acervo.
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